Repostando texto do blog: whatithinkaboutoxford.blogspot.com.br, de minha autoria também.

“Antes de chegar em casa, todos os dias, eu passo por um “muro” de planta. Quando eu cheguei aqui só se viam os galhos da planta, sem uma folha sequer, todo ele marrom; cheguei a pensar que tinha morrido, coitado, ninguém ia substituir o muro? Já dava até para enxergar a casa pelas frestas dos galhos. As semanas foram passando – eu já estou na minha sétima semana aqui – e eu vi, lentamente, folhas verdes nascendo no muro. No início eu fiquei meio desconfiada, porque as folhas eram muito verdes! E o muro, antes, estava muito seco. Comecei a formular teorias sobre a incidência do sol, se pegava mais de um lado, menos do outro (o muro fica numa esquina), talvez alguém tivesse molhado o local onde as folhas estavam nascendo ou talvez… Não sei, mas todos os dias eu passava e reparava no muro. Quando vi, comecei a torcer por ele e cada vez que eu via mais folhas nascendo, eu me animava pela “conquista” do muro.

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Parece ridículo né, mas adivinhem com quem eu achei este muro parecido? Comigo. Cheguei aqui parecendo uma destrambelhada. Querendo ignorar tudo que eu era e tinha aprendido a ser até agora para mergulhar na cultura inglesa. Dei com os burros n’água né, porque a gente não consegue “se limpar” do que é. A gente pode relativizar, claro, mas não deletar. Se desse para deletar, a vida seria muito linda, eu “deleto” que amo comer chocolate e pronto, aprendo a gostar de outra coisa. Só que na prática, a teoria é outra.Eu penso que é preciso ver como é a nova realidade, estudá-la e aí, então, começar a trocar velhos hábitos por outros novos, em um processo lento mas não doloroso, afinal a troca acontece se você quer. E quando eu aprendi esse tempo de aprendizagem, eu permiti que tantos conhecimentos brotassem de mim. De verdade, me abri para a cidade que continuava andando no seu ritmo habitual. Me abri para minha família e comecei a entender o que eles diziam na velocidade que eles diziam. Me abri para o aprendizado do inglês e vi o quanto eu tinha de conhecimento adormecido em mim. Me abri para a vida e a cada dia comecei a valorizar mais algumas coisas que passam tão despercebidas. Hoje me dei conta que faz um tempão que não tomo refrigerante, e que não me faz a menor falta. Aprendi a carregar uma garrafa d’água na bolsa e tomá-la inteirinha. Nos primeiros dias foi por obrigação, algo como um desafio interno, e hoje sinto sede se não levo a garrafinha para a aula. Essa semana descobri que comer salada no almoço é suficiente e que existe prazer em sentar com as amigas e almoçar uma bandeja de salada – folhas verdes, vegetais coloridos e um molho caprichado – e que, ao contrário do que eu pensava, eu fico satisfeita por toda a tarde. Semana passada quebrei um limite que me pus a vida toda: de que não sabia correr. Coloquei uma roupa de ginástica e fui para um parque correr. Sozinha. Corria um lado, de uma ponta a outra, e voltava caminhando. Ia correndo, e voltava caminhando. Na segunda vez achei que ia morrer, na terceira achei que ia cair. Na sétima eu já conseguia controlar a respiração. Fiz o trajeto 9 vezes e voltei para casa me sentindo ‘medalha de ouro’. Na verdade, senti mesmo foram os músculos nos outros dias, mas a realização interna compensava a dor de subir e descer escadas. Tenho muitas técnicas de respiração para aprender, mas… É possível! E tudo é possível, por que teimam em nos ensinar os limites de tudo?

Esse é o muro hoje, quase inteirinho folhado – inventei essa palavra, acho que não existe.
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Desejo que amanhã seja um dia especial para cada um que tiver lido isso: abra-se para alguma coisa. Seja a dieta que a gente vive adiando ou seja simplesmente assumir um pensamento, um sentimento, um decisão. Mas que seja um dia especial!”